11/02/2019

Por quê eu não bato na minha filha?



Assim como muitos da minha geração eu fui uma criança que apanhei muito. Eu entendo a minha mãe, sei que ela fez o melhor que podia com a informação, e experiência que tinha. Mas não, eu não bato na minha filha.

Eu não bato porquê cada surra doeu demais.
Doeu porque veio de alguém que eu amava e que deveria me proteger.
Doeu porque eu aprendi que cada erro cometido, cada dificuldade em lidar com alguma situação resultaria em dor.
Doeu porque eu aprendi que conflitos eram resolvidos com violência.
Doeu porque eu não tinha respeito, era medo mesmo. Medo de errar.
Beliscões, palmadas, tapas, apertos, chineladas... fracos ou fortes, não mostravam os meus erros. Mostravam o cansaço da minha mãe e a dificuldade dela em lidar com as minhas limitações, imaturidade e dificuldades. Hoje percebo que não tinha nada a ver comigo, o tempo inteiro teve a ver com ela. Mas a maturidade para entender isso chegou 15 anos depois de muitas surras.

Eu tenho essas mágoas, eu não morri, eu respeito minha mãe, nos damos muito bem hoje, eu aceito a minha criação, eu sou uma cidadã de bem.
Eu sei que vou errar com a minha filha em diversos aspectos, e posso até perder a cabeça e cuspir pro alto, mas essas marcas, eu não quero deixar.

Você apanhou na infância?

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