08/03/2017

Vai uma mamadeira de leite condensado aí?




Você já pensou em oferecer leite condensado ao invés de leite materno ou de vaca para seu bebê?
Tal pensamento parece ser sem cabimento não é mesmo? Oferecer uma bomba de açúcar para um recém nascido. Mas é o que médicos do início do século recomendavam de acordo com as propagandas do nosso querido Leite Moça da época.

“O bom Leite Moça, que é puro, rico em creme, que não se pode falsificar e substitue com vantagem o leite fresco. Segundo a opinião de summidades médicas, é o único que pode fazer as vezes do leite materno na época difícil de serem desmamadas as crianças.” publicada na revista Vida Doméstica de 28 de julho de 1928

Naquela época o leite condensado era comercializado como o substituto vitaminado, mais durável e supostamente mais higiênico – porque condicionado em latas fechadas – do leite fresco, que ainda saía das vacas e cabras das pequenas propriedades direto para as garrafas entregues em casa (onde não havia geladeira para que durasse mais do que algumas horas). Com um discurso higienista – que culminaria no I Congresso Brasileiro de Higiene, em 1923, organizado no Rio de Janeiro pelo famoso médico sanitarista Carlos Chagas, com quatro dos vinte temas de debate relacionados à alimentação* – faria com que os enlatados passassem a ser mais bem aceitos. Não por acaso, é nessa mesma década que o anúncio do recém-lançado Leite Moça, na Vida Moderna, o coloca como um dos ingredientes indispensáveis à nutrição do bebê. Diluído em água, ele virava o leite da mamadeira das crianças.

A lógica era mais ou menos a seguinte: porque eram industrializados, acreditava-se que os ingredientes continham menos impurezas do que aqueles produzidos à antiga moda artesanal, em condições desconhecidas ou muitas vezes distantes das regras de higiene que começavam a ser impostas. A expansão das propagandas e da imprensa no início do século 20 contribuía para que, cada vez mais, as latas de produtos como o leite condensado chegassem ao conhecimento das mulheres, então responsáveis pela alimentação em casa.

Ao lado dos industrializados, também o açúcar passava a ser vendido nos anúncios publicitários como um alimento indispensável à saúde, sobretudo das crianças, que, com uma dieta rica dele, teriam mais energia e ficariam mais robustas e coradas. Esse seria, aliás, o mote das propagandas do adocicado ingrediente até praticamente o fim do século 20. Nos livrinhos culinários lançados pela marca União a partir dos anos 1960, esse discurso, inclusive avalizado por médicos, permeava as páginas de receitas.

 

O que eu quero dizer com isso?
As coisas mudaram, os tempos mudaram! Sua bisavó pode ter oferecido leite condensado pra sua avó e ela não morreu por isso. Sua avó possivelmente colocou amido de milho no leite da sua mãe, que também não morreu por isso. A sua mãe colocou Mucilon no seu leite e você também não morreu por isso. Isso não quer dizer que você precisa repetir tudo isso, porque as coisas estão mudando. Novos estudos são realizados. Coisas novas vão aparecendo. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto o Ministério da Saúde recomendam não utilizar açúcar no primeiro ano de vida. E em 2016, a Academia Americana de Pediatria alterou a recomendação para que se introduza o açúcar somente após os 2 anos de idade.

Vivemos novos tempos na alimentação infantil. Esse estilo de vida moderno nos levou à necessidade de refeições práticas e rápidas que, associadas às facilidades tecnológicas, provocaram alterações nos hábitos de vida e no comportamento alimentar de todos. Essa alteração nos costumes alimentares provocou mudanças no estado nutricional das crianças, melhorando os índices de desnutrição, mas deixou-as mais suscetíveis à obesidade, diabetes e hipertensão arterial, entre outras doenças da modernidade.

Então se você quer oferecer biscoito recheado, refrigerante, suco de soja, danoninho, neston, achocolatado ou seja lá o que for pro seu bebê... vai lá, vai fundo. Seu filho, suas escolhas. Mas vamos também respeitar aquela mãe que quer oferecer um tipo de alimentação diferenciada. Cada mãe tem uma história e não cabe a ninguém julgar. E sem o comentário... Ah mas eu dei e meu filho não morreu. Que bom né, afinal, a intenção não era mesmo matar. Mais amor, mais respeito e mais empatia por favor!  

Fontes:
https://lembraria.com/2017/02/03/as-fantasticas-mamadeiras-de-leite-condensado-ou-uma-historia-do-brigadeiro/
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89101990000300011
http://www.redeblh.fiocruz.br/media/guiaaliment.pdf

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